sexta-feira, 28 de maio de 2010

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Encontro-me aqui. Aqui onde? De fato não sei. Olho na parede e está escrito Casa Villarino. Aqui sentei exausta, após uma semana intensa, com a entrada do mestrado em minha vida.

Sexta-feira, dia 18 de março, às 18h30min horas... Da minha última aula da semana, quando pensei que estava fechando a semana, o trabalho me convoca. Quase na boca da ponte em direção a Niterói, retorno em direção ao centro da cidade. Já noite, finalmente saio do trabalho em direção a minha casa, do outro lado da poça. Ando dois quarteirões e não mais saio do lugar. O trânsito se transforma num nó. Tento conquistar o meu espaço entre os carros. Em vão, tudo parado, mas a minha cabeça a mil... Ainda tenho que transpor a Baía de Guanabara, missão impossível. Tão impossível como a conciliação entre o mestrado, o trabalho e a vida familiar (pai, casamentos, filhos, netos, cães...).

Uma buzina me assusta, volto ao tempo real, meu carro ainda está no mesmo lugar. Será que não vou conseguir chegar ao meu destino que é Niterói e/ou ao fim do mestrado?

De repente um momento de lucidez. Penso que o primeiro da estafante semana. Estaciono o carro, saio meio tonta sem destino e começo a perambular entre as ruas e carros... e parei aqui, de forma autista...onde estava mesmo? Leio novamente Casa Villarino, caligrafia antiga, mesas de bar em mármore, partilhas portuguesas pelo chão, fotos em branco e preto nas paredes, cheiro de histórias.

Peço uma Stella Artois, um pouco de Parma e o viciante amendoim. Lembrei que nem tinha almoçado. Decisão sensata... Pego papel e caneta.

Como tudo começou? De fato não me lembro de um marco, mas a idéia de me render à academia há tempos vem me seduzindo e me amedrontando. Sempre relutei, será por medo ou por convicções? Ou por falta de oportunidade, arrimo de família o meu trabalho era o sustento de todos. Ou por não me dar oportunidade. Dei-me. E já na primeira semana vejo que terei que fazer uma opção, abrir um espaço bem maior na minha tão tumultuada vida para o mestrado... Mais uma encruzilhada.

Será que o trânsito já está fluindo? Peço mais uma cerveja, uma Serpa, está mais gelada. O garçom é ultra simpático...

De volta ao banco escolar, o que de fato quero agregar a minha vasta prestação de serviço, a minha intensa vida profissional. O que busco? Uma forma de sistematizar as experiências adquiridas, uma metodologia para repassar este conhecimento prático? A busca de um canal entre o mundo teórico e a prática ou certa frustração entre o muito fazer, mas pouca clareza dos resultados. Será que por isso que escolhi como tema da minha dissertação a mensuração da ação de comunicação, dentre tantos temas que poderia ter pensado? Será que é esta a minha aflição? Trinta e cinco anos de trabalho ininterruptos, nas mais diversas mídias, inúmeros “cases” de sucesso. Valeu? Qual foi o impacto? Qual foi a mudança? Acho que está na hora de mudar, está na hora de incorporar esta mudança, mudança de curso...

Não me importo de continuar com as interrogações, elas não me incomodam, pois elas são importantes...

Porque será que já nas primeiras aulas eu mudei o foco de interesse da minha dissertação, de análise de discurso, de tensão do poder, me voltei para indicador, avaliação das peças de comunicação. Talvez eu esteja na busca de respostas. Valeu?

O burburinho do bar aumenta, o Parma acabou. Peço outra Cerpa. Tomara que não tenha Lei Seca na ponte Rio - Niterói. Uma coisa é certa, não me lembro da última vez que tive este momento só meu, sem os maridos, netos, filhos, animais, amigos, enfim a tribo que me acompanha. Prazeroso... mas como conciliar tudo...

Minha mãe morreu morte súbita e recente. Amanhã inauguramos uma rua que levará o seu nome. Ela fez história. Outro evento, mais produção e mais emoção. Amanhã minha filha faz a mudança com a sua família para a minha casa. Na semana seguinte será a vez do meu filho e meu pai. A tribo estará completa. Mas como equilibrar o tempo? Como terei tempo para o Portfólio, para leituras de textos de Estelita, fichar, escrever textos... minha cabeça roda.

Tomara que o trânsito tenha escoado ou ficarei bêbada. Sabe como é o nome do garçom? Neusimar.

Quando Inesita falou do portfólio físico, o que me veio à cabeça foi à tradicional pasta com plástico dentro e. tudo resolvido. E o virtual... Ah! O virtual...Drop.io, Ning, dropbox, issuus, todas estas informações em apenas uma hora...que contraste, um choque de gerações?

Vou tentar conciliar... mas como? Muita cerveja... tive que ir ao banheiro..

Perdi o fio da meada, mas valeu a reflexão, a cerveja, um momento só para mim, tão raro. E pelo anda da carruagem terei que ter outros momentos como esse para produção de outros textos.

De qualquer forma a carga da tinta da minha caneta acabou, peço a caneta do Neusimar.

Será que agora eu consigo atravessar a Baía? Será que conseguirei terminar o mestrado?

Talvez daqui à uma hora vou saber se chegarei a Niterói, mas quanto ao mestrado me parece que a estrada será mais longa.

Boa viagem para todos nós! É o que desejo sinceramente.

Cristina Ruas

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