quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PROCURA-SE VIVO OU MORTO

PPGICS - Turma 2010
ALUNO: Ester Cristina Machado Ruas
LINHA DE PESQUISA (2)
DISCIPLINA: PORTFOLIO II
COORDENADORAS: INESITA ARAÚJO E CÍCERA SILVA
DATA: 30/09/2010

Na apresentação da aula de Portfólio, no dia 30 de setembro, na Fiocruz, a aluna
Cristina Ruas apresentou o retrato falado do objeto criminoso responsável por cerca
de 200.000 mortes/ano decorrentes do tabagismo (OPAS, 2002). A aluna de mestrado
está oferecendo recompensa para quem encontrar o objeto e os seus parceiros de
nome muito estranho: problema da pesquisa, quadro teórico de referência e hipótese.
Cristina Ruas contou em sala de aula como se aproximou do objeto criminoso e como
ele se tornou uma problemática em sua vida e na vida de todos aqueles que se aproximam
dele.

Desde o começo do meu trabalho como jornalista, atuando na chefia da comunicação
do Instituto Nacional de Câncer, pareceu-me que seria possível dar início a uma política de
comunicação através de uma construção compartilhada de conhecimento. A oportunidade
ocorreu quando o setor de tabagismo convidou as áreas de Psicofisiologia (UFRJ/UFF) e Design
(PUC-Rio) para desenvolveram as novas imagens e frases de advertência, uma experiência
similar de “prática cumulativa de um conjunto de saberes e do saber-fazer acumulado”.
O processo de desenvolvimento e implementação da terceira versão das imagens e
advertências impressas nos maços de cigarro foi desenvolvido através reuniões de consenso
e contrassenso entre este grupo de especialistas e, mais precisamente, por dois campos de
produção e circulação relativamente autônomos, a saúde e a comunicação, tanto do governo
como da academia.
Quem melhor traduz estas relações de conflitos e disputas de campos que estava
acontecendo naquele ano no INCA é o filósofo da Escola Sociológica Francesa Pierre Bourdieu
que define “o poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e
fazer crer, de confirmar ou transformar a visão de mundo”.
A interrelação dos campos tinha como objetivo claro a produção de fotos de
advertências para utilização nos maços de cigarros brasileiros, assim como testar o impacto

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emocional delas entre a população de 15 a 24 anos.
Este será o meu objeto de pesquisa empírica. E, através da observação indireta,
desta história, de dados obtidos originalmente, somado a dados secundários, como o clipping
eletrônico e outros documentos levantados pelo próprio INCA e Ministério da Saúde, tendo
ainda a pesquisa bibliográfica, pretendo construir a minha base de dados.
Neste processo foram levados em conta também fatores externos e adversos, como
momento político, necessidade de focar grupos específicos, de se trabalhar temas relevantes
sobre tabagismo, o nível de aversividade alcançado nas avaliações emocionais, assim como
o cuidado de não veicularmos imagens ou frases que colocassem o Ministério da Saúde em
situação desfavorável.
A linguagem dialógica neste contexto é fundamental, já que o poder de decisão para
a escolha de qual das 10 imagens/frases de advertências dos 15 protótipos confeccionados
iriam ser selecionados para publicação final nos produtos derivados do tabaco estava nas mãos
da Equipe da Divisão de Controle do Tabagismo, da Coordenação de Prevenção e Controle do
Câncer / Instituto Nacional de Câncer. A ANVISA neste momento dificulta o processo decisório
e chama para si o poder de escolha. Impasse, muita mesa de negociação, argumentos dos
especialistas da saúde e da comunicação, enfim um cenário que talvez o método dialético
possa auxiliar neste campo histórico, buscando as relações estruturais do fenômeno no todo
social por meio do princípio da contradição.
Recorrei ao autor Chaim Perelman quando define “a existência de uma pluralidade de
sujeitos racionais e de uma abordagem diferenciada dos problemas que permitiria entrever
uma dialética resultante de um diálogo que confronta opções e as diversas perspectivas”.
Durante todo esse o processo que participei ativamente, a função social era de fazer
conhecer os malefícios do cigarro utilizando signos, símbolos e linguagem comunicacional para
reforçar este enunciado. Ninguém jamais contrapôs, em todo o percurso, que o cigarro não faz
mal a saúde ou argumentou sobre a dualidade dos sentidos de verdade e mentira, das causas
da ambiguidade de opiniões em torno do tabaco. Ali não existiam pensamentos, confusos ou
inconsistentes. Ali não existia polifonia ou diversidade. Ali existia apenas uma crença: “Fumar
faz mal a saúde” e a necessidade de representação deste enunciado.
Aí está o meu problema de pesquisa: Qual o sentido deste enunciado como verdade,
advertindo quanto aos malefícios, se o número de fumantes continua aumentando? Segundo
a OMS, passará do ano 2000 a 2030 de 1,2 bilhões para 1,6 bilhões milhões. Qual a relação de
causa e feito destas frases e imagens advertências?
Fui buscar respostas a estas minhas indagações na fonte acadêmica destes dois
campos de conhecimento comunicação e saúde, no PPGICS/Fiocruz. Matriculei-me no
mestrado para tentar entender qual o sentido deste enunciado. Foram várias as abordagens
dos professores para me explicar as diferentes formas de utilização das expressões linguísticas.
A filosofia, que é a ciência do ser e os seus grandes pensadores, foi uma delas. Desde Platão,
Aristóteles até Spinoza ou as contribuições de Galileu, Kepler, Copérnico e Descarte, estes
mostraram para mim que a função da expressão linguística é fazer conhecer a essência, a
realidade objetiva a qual se refere quem expressa o que tem um sentido, para nos permitir
julgar da verdade ou da falsidade de suas asserções.
Mas foi no pós-modernismo que me aproximei mais da resposta que tanto procurava.
Os pensadores daquela época, como Foucault, Julies Deneuve, Levy Strauss, Pierre Bourdieu, já
consideravam o sentido da expressão linguística como uma construção social, estabelecendo a
troca no nível do cognitivo. É o saber que se transforma em um objeto discursivo.
Seja na Sociologia da linguagem, de Pierre Bourdieu ou na Nova Retórica, de Chaïme
Perelman, o importante é observar que "todo ato de tomar a palavra implica na construção de
uma imagem de si", da qual nenhuma enunciação pode escapar.
Entendi então que o sentido estava na obra humana, na prática social. Mas
como este campo é muito amplo, decidi fazer um recorte e escolher um grupo social.
Como as imagens e advertências impressas nos maços de cigarro, quando lançadas em

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maio de 2008, obtiveram grande repercussão na mídia nacional e internacional, entendi que
o campo dos mídias seria um bom recorte já que eles são uma expressão crítica da sociedade.
Assim, farei uma análise desta amostragem (tabulação e classificação) da mídia impressa,
tendo como pergunta norteadora: Como a mídia constrói os sentidos sobre as novas imagens
de advertências dos maços de cigarros?
Nesse contexto onde interpretamos imagens como textos, geramos imagens a partir
da leitura de textos, lemos peças híbridas e modificamos ambos – texto e imagem – a partir
de sua simultaneidade, a semiologia como estudo dos sistemas de signos não linguísticos no
seio da vida social tem afinidades claras com o campo da interdisciplinaridade e sua vocação
híbrida. Utilizarei os estudos midiáticos do autor Milton José Pinto, como referência de uma
prática do campo da lingüística e da comunicação especializado em analisar construções
ideológicas presentes em um texto, muito utilizada, para analisar conteúdo da mídia e as
ideologias que os engendram, sua origem, emissão e recepção.
Assim, a veiculação híbrida das imagens (texto e imagem) no maço de cigarros como
uma peça semiótica e de retórica e os indícios de sua recepção também híbridos (discursos
produzidos na mídia e pela população em geral) deverá ser abordada nessa minha proposta
de dissertação de mestrado, que contemplará: o referencial teórico, a contribuição do campo
interdisciplinar da comunicação e saúde e a relevância desse tipo de análise da comunicação
para a área de medicina social.
Espero que com essas premissas eu consiga caminhar em direção a minha hipótese:
Como quarto poder, a mídia não disputa a construção dos sentidos com os outros poderes
instituídos, apenas os reproduz como legítimo e crível.

A investigação sobre onde estarão o objeto criminoso e seus parceiros (problema
da pesquisa, quadro teórico de referência e hipótese) dá sinais, enfim, de que eles serão
encontrados em um lugar na corrente do crescimento de minha investigação. Mas se eu
quiser continuar avançando, vou ter que fazer novas buscas por um novo retrato falado: a
interpretação dos dados.

Agradeço a paciência dos meus ouvintes e por entender que este é o melhor espaço de
orientação, já que utiliza de uma produção compartilhada de conhecimento, e sabendo que
a absorção destas palavras não ocorrerá nem aqui e nem de imediato, peço que de passivo,
vocês tomem uma posição crítica e ativa, colocando neste texto que ora ponho em suas mãos,
as opiniões, contribuições, críticas e tudo mais que possa ajudar na busca de respostas.

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